Powered By Blogger

Pesquisar este blog

terça-feira, 3 de abril de 2018

Pessoas com paralisia cerebral não são eternas crianças.





Sambódromo da Marquês de Sapucaí,RJ



 
Este comportamento surge pela ideia que estas pessoas carregam por toda vida características como fragilidade, inferioridade e inocência. Tais atributos estão também intimamente ligados às crianças, portanto mesmo de maneira inconsciente a sociedade enxerga na pessoa com paralisia cerebral, uma criança grande.

Este pensamento gera, por exemplo, atitudes repetitivas como se referir às pessoas no diminutivo (bonitinho, fofinho), falar diretamente de maneira infantilizada, utilizar roupas mais infantis, além de reprimir todos seus direitos de escolhas. Tudo isso ocorre de maneira natural, sem perceberem que se o adulto não tivesse paralisia cerebral estas ações não seriam frequentes.

Porém, é extremamente necessário nos policiarmos para que este comportamento não se repita. Quando se infantiliza um adulto, automaticamente, está o subestimando, o que atrapalha diretamente o desenvolvimento de sua autonomia, pilar fundamental para a inclusão social que tanto buscamos. É preciso dar o direito das pessoas fazerem escolhas, e entender que cada escolha tem consequências. É lógico que cada pessoa com paralisia cerebral apresenta uma personalidade e também diferentes limitações (que muitas vezes podem ser avançadas), e isso também deve ser considerado. Porém o principal é entender que aquela pessoa que esta ali, recebendo o cuidado, não é uma ‘criança grande’.

É importante acreditar que eles crescem independente das características que cada um desenvolve diante de sua condição e deficiência. Adultos têm sonhos, medos, anseios, expectativas, responsabilidades, direitos e deveres. Adultos com paralisia cerebral também os têm.

 

Pessoas com paralisia cerebral

• É muito importante respeitar o seu ritmo. Normalmente, ela é mais vagarosa no que faz como andar, falar e apanhar objetos.

• Tenha paciência ao ouvi-la e, se não entender sua fala, peça que repita. A maioria tem dificuldade de fala. Isso ocorre por causa da disartria, que é a dificuldade de utilizar os músculos da fala ou, então, pela fraqueza muscular.

·       Às vezes uma pessoa não tem intenção de nos magoar, mas, por ela ter pouca empatia, ela não percebe o quanto alguns de seus atos podem soar hostis. São pessoas que machucam simplesmente porque não conseguem se colocar no lugar do outro. #FicaADica

Há pessoas que confundem, erroneamente, tal dificuldade e o ritmo lento com deficiência mental.

• Não trate a pessoa com paralisia cerebral como criança ou incapaz.

Para atender pessoas com paralisia cerebral

• A pessoa com paralisia cerebral não tem, em via de regra, uma deficiência intelectual.

• Faz gestos faciais involuntários.

• Anda com dificuldade ou, às vezes, não anda (algumas pessoas  tem deformidades e podem confundi-la com uma pessoa alcoolizada).

• Está atenta a tudo o que acontece ao seu redor: Não fale dela como se ela não estivesse presente.

 

O AMOR

 

Obrigação do amor igual

 

É muito comum as pessoas sem deficiência ao observar uma PC (pessoa com paralisia cerebral) solteira sugerir a esta uma relação com outra PC.

Não há nada de errado na relação entre iguais (aqui considero iguais pessoas que tenham deficiência, não importando se estas são iguais), aliás, existem muitos casais que o são e são muito felizes. O problema está em considerar que esta é a única opção de uma PC.

O amor não precisa acontecer somente entre os iguais. O amor acontece porque acontece. Simples. Essa obrigatoriedade é uma das causadoras da solidão da pessoa com deficiência. (Paralisia Cerebral PC).

 

Solidão

 

É impressionante o peso que a deficiência tem em relacionamentos. Seja qual for a relação. Não basta trazer em si uma boa personalidade, inteligência, senso de humor, bom gosto ou qualquer outra característica importante para se considerar alguém interessante. Se este (ou esta) estiver em uma cadeira de rodas, por exemplo, deixou de ser uma opção de paquera. É como se fosse uma escala de pontuação. Seja 100 em todos os pré-requisitos, mas se apresentar menos de 10 em “eficiência” física anula todos os pontos.

Por esse motivo constantemente vemos muitos reclamando sua solidão e desacreditando que um dia serão pessoas dignas de receber o amor de alguém. Tentam de todas as formas serem aceitos, tentam os aplicativos de relacionamentos, salas de bate papo e toda e qualquer estratégia para se aproximar das pessoas. Já vi críticas de PCDs em relação a isso, dizendo que estes não possuem mais nada a fazer senão o desejo de namorar. Ocorre que de tanto tentar essas pessoas começam a negociar e diminuir seus valores. Uma gota de atenção já basta.

Para mulher com paralisia cerebral, então, a solidão traz em si o peso de “não ser mulher”.

_ Nossa você é linda… Adoraria te conhecer, vamos sair?

_ Obrigada, você viu que uso cadeira?

_ Não… É mesmo? Ah… mas o importante é ser feliz né? Aqui, você é muito legal. Vou precisar sair agora, mas a gente se fala.

 

Nos sentimos incompletas. Mulheres lindas começam a questionar sua aparência, culpam-se por não serem “normais”. Perdem sua auto estima, não se sentem capazes de fazer alguém feliz. Em alguns casos perdem inclusive sua identidade.

A solidão transtorna amigas. Deprime.

A vida segue (?)

É preciso mudar o olhar para as pessoas com paralisia cerebral. Nós somos resultado de nossas experiências e podemos oferecer bons momentos como qualquer outro.

Aquela moça com cadeira de rodas pode ser uma excelente companhia para um sábado a noite, o rapaz com baixa visão pode ser incrivelmente engraçado e te valorizar mais do que as outras pessoas que conheceu.

Porém não se engane, não desejamos que ignore nossas diferenças ou que se considere benevolente em se aproximar de nós, apenas que não utilize nossa deficiência como desculpa para o seu preconceito. Se isso não for possível, então permaneça distante. É melhor viver sozinha do que mal acompanhada.

Se tiver alguma pessoa com paralisia cerebral nessas situações, não desvalorize as suas tentativas. Nada de:

_Ah, você conheceu esse cara na internet? (cara de deboche)

_ Nossa, mas você só usa a internet pra conhecer as pessoas. Por isso não dá certo.

_Já pensou em fazer outra coisa?

_Quando parar de procurar vai aparecer alguém.

_Eu acho que você devia ser menos exigente.

_Você precisa sair menos.

_Você precisa sair mais.

_Você devia agradecer que fulano (a) tá namorando com você…

 

Se você não tem nada melhor a dizer, permaneça calado e apenas ouça. Seja uma boa amizade e não pese em seus julgamentos. É preciso compreender que a solidão da pessoa com paralisia cerebral é resultado de uma sociedade capacitista e preconceituosa. Esta já exerce muita pressão e opressão sobre nossos ombros com sua falta de acessibilidade em espaços públicos. É preciso construir um olhar mais humanizado para nossa questão abrindo mão do vitimismo e do heroísmoEnxergar menos seus diagnósticos e mais o ser humano. Somente assim conseguiremos criar uma consciência nas pessoas capaz de fazê-las entender que somos iguais, apesar das diferenças.