Revista Sentidos
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segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Ser “cadeirante” é…
Ser cadeirante é ter o poder de emudecer as pessoas quando você passa… Ser cadeirante é não conseguir passar despercebido, mesmo quando você quer sumir! E ser completamente ignorado quando existe um andante ao seu lado. E isso não faz sentido, as pernas e os braços podem não estar funcionando bem, mas o resto está!
Ser cadeirante é amar elevadores e rampas e detestar escadas… Tapetes? Só se forem voadores, por favor! Ser cadeirante é andar de ônibus e se sentir como um “Power Ranger” a diferença é que você chega ao ponto e diz: “é hora de MOFAR”.
Ser cadeirante é ter alguém falando com você como se você fosse criança, mesmo que você já tenha mais de duas décadas. Ser cadeirante é despertar uma cordialidade súbita e estabanada em algumas pessoas. É engraçado, mas a gente não ri, porque é bom saber que, ao menos, existem pessoas tentando nos tratar como iguais e uma hora eles aprendem!
Ser cadeirante é conquistar o grande amor da sua vida e deixar as pessoas impressionadas… E depois ficar impressionado por não entender o porquê do espanto. Ser cadeirante é ter uma veia cômica exacerbada. É fato, só com muito bom humor pra tocar a vida, as rodas e o povo sem noção que aparece no caminho.
Ser cadeirante e ficar grávida é ter a certeza de ouvir: “Como isso aconteceu?” Foi a cegonha, eu não tenho dúvidas! Os pés de repolho não são acessíveis! Ser cadeirante é ter repelente a falsidade. Amigos falsos e cadeiras são como objetos de mesma polaridade se repelem automaticamente.
A EMOÇÃO DA MATERNIDADE |
Ser cadeirante é ser empurrado por aí mesmo quando você queria ficar parado. É saber como se sentem os carrinhos de supermercado! Ser cadeirante é encarar o absurdo de gente sem noção que acha que porque já estamos sentados podemos esperar, mesmo! Ser cadeirante é uma vez na vida desejar furar os quatro pneus e o estepede quem desrespeita as vagas preferenciais.
Ser cadeirante é se sentir uma ilha na sessão de cinema… Porque os espaços reservados geralmente são um tablado, ou na turma do gargarejo e com uma distância mais que segura para que você não entre em contato com os outros andantes, mesmo que um deles seja seu cônjuge!
Ser cadeirante é a certeza de conhecer todos os cantinhos. Por que Deus do céu,todo mundo quer arrumar um cantinho para nós? Ser cadeirante é ter que comprar roupas no “olhômetro” porque na maioria das lojas as cadeiras não entram nos provadores. Ser cadeirante é viver e conviver com o fantasma das infecções urinárias. E desconfio seriamente que a falta de banheiros adaptados contribua para isso.
Ser cadeirante é se sentir o próprio guarda volumes ambulante em passeios pelo shopping. Ser cadeirante é curtir handbike, surf, basquete e outras coisas que deixam os andantes sedentários morrendo de inveja. Ser cadeirante é dançar maravilhosamente, com entusiasmo e colocar alguns “pés-de- valsa” no bolso… Ser cadeirante é ter um colinho sempre a postos para a pessoa amada. E isso é uma grande vantagem! Ser cadeirante (e mulher) é encarar o desafio de adaptar a moda pra conseguir ficar confortável além de mais bonita. Ser cadeirante é se virar nos trinta para não sobrar mês no fim do dinheiro, porque a conta básica de tudo que um cadeirante precisa… Ai… Ai …Ai… Essa merece ser chamada de “dolorosa”.
Ser cadeirante é ir à praia mesmo sabendo que cadeiras mais areia mais maresia não são uma boa combinação! Ser cadeirante é sentir ao menos uma vez na vida vontade de sentar no chão e jogar a cadeira na cabeça de outro ser humano, que esqueceu a humanidade no fundo da gaveta de casa!
Ser cadeirante é ter os sentidos aprimorados. Não perdemos os sentidos, somos pessoas que perderam os movimentos. Somos pessoas que ganharam braços mais fortes, audição mais aguçada que a do super-cão e olhos de águia, que enxergam de longe a falta de acessibilidade gritante, mesmo quando acham que está bem camuflada. Ser cadeirante é “viver e não ter a vergonha de ser feliz”, mesmo quando as pessoas olham para a cadeira e já esperam ansiosas por uma historinha triste.
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